Dra. Fernanda Mocelin

Divórcio com Filhos

Assunto importante, que surgiu com força agora na quarentena: divórcio de casais com filhos. Tive alguns no consultório e não posso deixar de falar sobre esta situação cada vez mais recorrente. Não entrando no mérito das causas que levaram o casal a se separar (e longe de mim questionar- um lar com pais em desarmonia funciona emocionalmente como um campo minado), a questão é uma só: o casal romântico não mais existe, mas o casal pai e mãe, sim.

E aí entra a dificuldade: como será possível, um casal que anteriormente já não se entendia e enfrentava problemas nos mais diversos aspectos, conseguir separar a parentalidade? Realmente, acho utópico (embora fosse perfeito), que existam regras iguais em ambas as casas. Valores iguais. Crenças iguais. Os mesmos limites. A mesma visão de mundo (afinal, os casais já se separaram por discordâncias em coisas básicas e importantes, não é mesmo?).

O que vejo é o seguinte: a criança se adapta às casas diferentes, regras diferentes, modelos de casamento/parentalidade diferentes. Se adapta a ter irmãos em uma casa e na outra casa não. Se adapta a ter horários diferentes pra dormir, para comer. A ter TV liberada em uma casa e na outra não. Se adapta, de verdade. Mas ela não se adapta, nunca, à agressão disfarçada de proteção, que é a alienação parental.

Por isto, pais divorciados, antes de mais nada, é responsabilidade de vocês poupar os filhos. Entendam os porquês da separação. Procurem terapia, vivam o luto necessário, e, por fim, voltem a ser felizes. Somente com pais felizes, será possível uma separação menos traumática. Sei que este caminho (o de superar o divórcio), pode ser longo e solitário, mas lembre: é o único jeito da separação dos pais não virar um rombo no meio do coração e na história dos filhos. E podem ter certeza: se não houver maturidade e muita auto análise de ambos os lados, este rombo terá consequências eternas. Muitas vezes, me questionam se a criança envolvida nisto deveria fazer terapia. A minha resposta é simples – sim, acho válido que a criança tenha um lugar neutro para expressar suas emoções, mas a terapia de nada vale se ambos os pais não se tratarem também. Pais fortes e estáveis, independente de estarem casados ou separados, são a base para uma criança mentalmente sadia.


Dra. Fernanda Mocelin – Pneumopediatra – RQE 27.163