Dra. Fernanda Mocelin

Sejamos todas gata Mila!

Adotamos uma gata. Como se não bastassem 2 filhas pequenas, 1 enteada, adotamos uma gata, porque, afinal, pobrezinhas das gurias sem um bichinho pra chamar de seu. Pois bem, a gata estava grávida. É inacreditável: minha boa ação foi compensada com uma gata que trouxe, de brinde, 4 filhotes na barriga.

O que eu vi, então, para minha surpresa, foi uma aula de maternidade.

Gata Mila amamenta seus filhotes.
Gata Mila não gosta que peguem seus filhotes.
Gata Mila só sai de perto para comer e pedir carinho – está carente, tadinha!
Gata Mila sai de perto, mas, ao som do primeiro miado, volta para eles na velocidade da luz.
Gata Mila está sempre encostada nos seus bebês. Se ela sai de perto, eles choram. Se ela volta, eles se acalmam na hora, simples assim.
Gata Mila está cansada.

Me parece tão natural a história da gata. Alimentar e cuidar dos seus. Querer ser cuidada enquanto cuida dos filhotes, trabalho que, ela sabe: ninguém mais pode fazer. Estar cansada, porque gerar e cuidar de uma vida demanda (e muito) para todas as espécies. Nada de errado nisto.

Em que momento tudo se perdeu e acreditamos que temos que deixar bebê chorando? Que colo demais acostuma mal? Qual o problema da mãe não querer largar o filhote? Ou não ficar confortável quando outros pegam o bebê? Ou em querer dormir bem pertinho, ouvindo a respiração?

Em algum momento, virou demodê esta coisa de instinto. Gata Mila, enfim, apenas reforçou o que meu coração de mãe sempre disse: colo demais é bom. Que mania estranha esta de querer independência em seres completamente dependentes!

Mães, olhem para dentro: a resposta está em vocês porque vocês são a resposta. Se permitam ser gata Mila.


Dra. Fernanda Mocelin – Pneumopediatra – RQE 27.163